Por Cristiano Mello de Oliveira
Para iniciarmos esta seção, fazemos o seguinte questionamento: você (leitor e futuro professor), nas conversas informais na sala dos professores ou nas reuniões do colegiado, já deve ter ouvido falar que o ensino de literatura praticado no ensino médio deve ser tratado de modo mais consistente e madura? As expressões “formar novos leitores” e “angariar leitores críticos” quase sempre soam como um jargão já desgastado, mas, insistentemente, são sempre lembradas como a tarefa principal do docente. É possível afirmar que, no ensino médio, estamos lidando com tipos de leitores mais acostumados com algumas técnicas literárias, ou que, ao menos, sabem falar sobre livro que leram anteriormente; que são maduros por terem um repertório maior de leituras do que tinham quando estudavam nos anos finais da educação básica.
Subentende-se que muitos estudantes adolescentes já possuem maturidade suficiente para ler obras literárias sem a devida imposição do professor. Maturidade e motivação são fatores indispensáveis no trato com o fenômeno literário. Formular uma “construção de uma situação”, conforme nos alerta Rildo Cosson (2005, p. 30), é uma forma bastante pertinente para dar sequência ao conteúdo de uma obra literária nesse nível de ensino. Em outros termos, o docente pode fazer com que os alunos respondam uma questão e se posicionem em relação ao tema proposto.
Para ilustrarmos melhor, tomamos como exemplo o romance pica resco Memórias de um Sargento de Milícias, do escritor Manuel Antônio de Almeida. Nessa narrativa seminal para a escola literária do romantismo brasileiro, o docente de literatura poderá realizar preliminarmente um fichamento da obra junto aos alunos. O interessante didático nesse romance é que ele possui uma linguagem sarcástica e irreverente, por meio da qual a obra ganha a simpatia de muitos alunos facilmente. Com uma espécie de decomposição dos aspectos narrativos estruturais (enredo, tipo de narrador, personagens, espaço, trama etc.), o aluno terá noção de como a obra foi estabelecida pelo autor. Ao que tudo indica, e conforme já alertou parte da crítica, esse romance exige um leitor familiarizado com o contexto histórico da cidade do Rio de Janeiro.
Dessa forma, o professor deve ambientar o seu aluno, frisando o ensino contextual ligado ao enredo. Acontecimentos históricos que circunscrevem a obra, como a chegada da família real portuguesa no Rio, a formação da primeira polícia no Brasil, política do favor, dentre outros eventos, a partir dos quais devem seguir para uma análise crítica, a fim de interrogar como alguns eventos ligados à trama narrativa modificam as ações das diferentes personagens. Com base nas orientações do autor, resolvemos propor ao aluno do terceiro ano, três leituras ligadas a três temas distintos para o anda mento de uma aula. Por motivos didáticos, no trato do leitor com temas desafiadores e ao mesmo tempo cômicos, o escritor escolhido foi o carioca Lima Barreto, autor do clássico Triste Fim de Policarpo Quaresma.
Podemos garantir a você que ele é um autor literalmente empolgante de ser estudado no ensino médio. Romancista-jornalista, escritor de várias cartas e de crônicas literárias, intelectual voltado a apresentar as incongruências da nação, Lima Barreto é considerado o mestre da representação literária brasileira. Seu papel na sociedade de época pode acrescentar vários desdobramentos para compreensão da história do Brasil, pois episódios como a Abolição da Escravatura, a transição do Império para a República, a Revolta da Vacina, entre outros acontecimentos, consubstanciou-se em pano de fundo para seus livros.
Dessa forma, o professor deve ambientar o seu aluno, frisando o ensino contextual ligado ao enredo. Acontecimentos históricos que circunscrevem a obra, como a chegada da família real portuguesa no Rio, a formação da primeira polícia no Brasil, política do favor, dentre outros eventos, a partir dos quais devem seguir para uma análise crítica, a fim de interrogar como alguns eventos ligados à trama narrativa modificam as ações das diferentes personagens. Com base nas orientações do autor, resolvemos propor ao aluno do terceiro ano, três leituras ligadas a três temas distintos para o anda mento de uma aula. Por motivos didáticos, no trato do leitor com temas desafiadores e ao mesmo tempo cômicos, o escritor escolhido foi o carioca Lima Barreto, autor do clássico Triste Fim de Policarpo Quaresma. Podemos garantir a você que ele é um autor literalmente empolgante de ser estudado no ensino médio. Romancista-jornalista, escritor de várias cartas e de crônicas literárias, intelectual voltado a apresentar as incongruências da nação, Lima Barreto é considerado o mestre da representação literária brasileira. Seu papel na sociedade de época pode acrescentar vários desdobramentos para compreensão da história do Brasil, pois episódios como a Abolição da Escravatura, a transição do Império para a República, a Revolta da Vacina, entre outros aconteci mentos, consubstanciaram-se em pano de fundo para seus livros.
Outra sugestão metodológica importante é o trabalho didático feito entre a literatura e o cinema. A ideia não é simplesmente comparar um romance com um filme adaptado, mas tentar provocar o aluno para uma possível análise do que pode ser recortado – linguagem, cenário, tipos de personagens. Nesse caso, o professor de Literatura poderá solicitar uma atividade interdisciplinar junto aos alunos do ensino médio, em especial aos alunos do terceiro ano. A título de ilustração metodológica, a prática em sala de aula seria o trabalho com algumas questões entre o romance A República dos Bugres (1999) e os filmes Independência ou Morte (1971), do cineasta Carlos Coimbra, e o filme Carlota Joaquina, a Rainha Devassa (1994), de Carla Camurati. Outro modelo inspirador que também pode ser usado pelo professor é a série televisiva da Rede Globo, O Quinto dos Infernos (2002).
Se tomássemos como exemplo também o romance Conspiração Barroca, do mesmo autor, o docente pode trabalhar de forma intertextual os livros O romanceiro da Inconfidência (1992), da romancista Cecília Meirelles, e o romance Os inconfidentes (1966), do escritor João Alves Borges. “O exercício literário inclui também a função de produzir certos níveis de reconhecimento, de empatia e de solidariedade e envolve reinventar, questionar e descobrir-se” (BNCC, 2018, p. 506). É a partir de um trabalho de literatura bem planejado, que vemos se efetivar o que é exposto pela Base: percebemos que muitos alunos acabam sendo seduzidos pela experiência literária. Ao ler um romance de Machado de Assis, José de Alencar ou Lima Barreto, o leitor acaba revelando sua empatia pela obra, descobrindo que o universo da ficção pode lhe causar prazer e fruição.
E, para desfrutar desse ato sublime, é necessário que o leitor reinvente o seu próprio tempo, ampliando momentos de ócio. Conforme já sa lientamos, embora a falta de tempo seja uma das principais desculpas apresentadas pelos alunos em relação ao tempo para se trabalhar todos os conteúdos, é indispensável que se adquira o hábito de leitura onde o professor e o aluno estiverem. Criando uma reserva diária de tempo, a leitura pode ser favorável em qualquer ambiente, seja no ônibus, na f ila de espera do dentista ou do médico, o momento de leitura deve ser estimulado por quem muito a estima e valoriza.