Por Cristiano Mello de Oliveira
Falar das tendências literárias na contemporaneidade significa compreendermos o significado da palavra contemporâneo. O contemporâneo pode ser camuflado como algo relacionado ao tempo de produção deste livro ou mesmo ao início da segunda década do século XXI. Devido à quantidade de obras artísticas surgidas na atualidade será que é possível darmos “conta” da recém-produção de livros de ficção? Como dizia um velho amigo, a produção literária não se esgota da noite para o dia, ela é praticamente infinita. Isso desencadeia claramente uma possível problemática: como falar de algo que tenha produção infinita? Para isso seria talvez mais prudente travarmos uma hipótese temporal favorável à nossa abordagem literária. Por esse motivo, falar de algo atual ou que estejam sendo produzido – conhecido pela expressão inglesa “work in progress” – pode não ser tarefa considerada tão fácil para a nossa realidade cada vez mais cambiante e flutuante. Para o senso comum a palavra nos remete a algo atual, moderno e que esteja relacionado à vanguarda.
Se existem tendências é porque existem trocas casuais por outros modelos literários ou obras dispostas a ficarem encalhadas nas prateleiras de algumas livrarias. Outra problemática interessante é sabermos que tendências são rotuladas como algo efêmero e disposto a sumir do mapa cultural por um breve ou esporádico período de tempo. Para sabermos se existem tendências ou não, também se faz necessário um estudo mais aprofundado no mercado editorial brasileiro. Sendo assim, a lista de livros mais vendidos (inclusos também os de não-ficção) parecem que soam devidamente informativo ao leitor mais apressado ou simplesmente aquele que deseja tomar conhecimento da rotina do vai e vêm literário. Por meio desta, o leitor pode sumariamente ter noção do que está sendo publicado e lido na atualidade. Não raro, livros de autoajuda ou biografias de famosos ainda compõe este grande cenário editorial que rotineiramente busca acompanhar também o perfil de alguns leitores promissores, ou seja, que se tornem tão cedo consumidores de livros.
É interessante relatarmos que por mais que resolvêssemos falar das grandes tendências literárias atuais, o certo é que não conseguiríamos resolver este grande dilema cultural. No entanto, basta um olhar para verificarmos que outro fator considerável é que a escolha de falar de algumas obras e outras não, é que teríamos que eliminar livros que, por outro autor, seria considerado uma verdadeira tendência. O que estamos tentando dizer é que catalogar uma tendência literária é antitético em relação aos fatores que implicam numa espécie de gosto. Em outras palavras, a seleção acaba sendo demasiadamente subjetiva e ideológica. A grande questão é: o que é tendência para mim, certamente, não será para você e vice-versa. Razões e motivações à parte, o certo é que uma escolha demanda uma preferência e simpatia. Nessa manobra, não devemos nos furtar que algumas tendências são carregadas de múltiplos fatores ligados ao consumo e ao mercado editorial e, quase nem sempre, existe uma relação de custo benefício na aquisição de uma obra e, sim, uma relação de desejo e curiosidade. Em suma, ler uma obra é sempre uma disposição ociosa apreciativa, pois quando decidimos ler um romance é porque algo nos chamou a nossa atenção.
A nosso ver, o denominador comum de todo esse assunto é que tendência se relaciona com o espírito de uma realidade, porém nem sempre essa é devidamente apreendida ou representada. De todo modo, a pergunta que não quer calar é: como o romancista brasileiro consegue dar conta e representar uma realidade tão mutante e desorganizada atualmente. Assuntos ligados à política deveriam se tornar prato cheio para alguns romancistas, como foi caso daqueles inseridos durante a Ditadura Militar Brasileira. Existe um ponto na curva de raciocínio desta temática e, certamente, não devemos nos posicionar apenas de forma defensiva. Acerca dessa problemática, o crítico Karl Eric Schollhammer depõe (em tom generalista) que o romancista atual “[…] parece estar motivado por uma grande urgência em se relacionar com a realidade histórica, estando consciente, entretanto, da impossibilidade de captá-la na sua especificidade atual, em seu presente” (SCHOLLHAMMER, 2009, p. 10). Sua resposta é condizente, no entanto, ao que tudo indica o crítico Schollhammer, com base nas formulações do italiano Giorgio Agamben, caracteriza uma história que faça parte do presente, ou seja, aquela que o escritor deseja dar conta, mesmo sabendo da impossibilidade de conferir realidade ou verossimilhança.
Em linhas finais, sem ao menos colocarmos um “ponto final” nesta discussão, um dos temas que mais fascina o universo da ficção brasileira na contemporaneidade é a violência e o trato com fatos históricos de época. A nosso ver, romances considerados policiais e históricos invadem as prateleiras dos livros, marcando algo que a literatura nem sempre observou: uma grande tiragem e a participação ativa do público leitor nas feiras literárias. Como anuncia o pesquisador acima, existe uma fome de representação do real e também certa dificuldade de apreender tal tendência fictícia. Desse modo, o que mais chama atenção ao atual leitor é a representação da realidade na literatura, ou seja, existe uma busca desenfreada pela realidade – seja ela momentânea ou pouco remota.
Ao que tudo indica, quando um escritor ativa as referências extraliterárias representadas no enredo da obra, esta passa a ter maior significância ao leitor – seja este especializado ou não. Para ilustrarmos melhor, podemos tomar como parâmetro dois escritores brasileiros que resolveram fazer das literaturas produzidas a principal razão de viver. Atualmente ambos residem na cidade do Rio de Janeiro e, consequentemente, se aproveitam de uma matéria orgânica urbanística para compor parte dos seus romances. Para sairmos desse grande suspense, são eles: Luiz Alfredo Garcia-Roza e Ruy Reis Tapioca.
Ficou curioso, caro leitor? Busque os romances dos autores mencionados. Fica a dica!
REFERÊNCIAS
SCHOLLHAMMER, K. E. Ficção brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.