A PESQUISA NA ÁREA DE HISTÓRIA E LETRAS – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Por Cristiano Mello de Oliveira

Início este ensaio com alguns questionamentos: qual seria o método eficiente para uma pesquisa na área de História ou Letras? O que motiva o pesquisador a realizar uma nova pesquisa? Por que muitos pesquisadores abdicam da vida pessoal para se dedicarem ao campo das pesquisas? Quais são os principais autores que discorrem sobre a área da pesquisa acadêmica? O elenco de indagações não é nada gratuito, tendo em vista que o assunto desperta curiosidade e instigam aqueles pesquisadores que desejam crescer no ambiente acadêmico e junto a isso publicar suas pesquisas, participar de congressos e seminários, entrevistas, textos em jornais, periódicos, etc.

O reencontro umbilical da dualidade (História e Letras) abordada instiga novos paradigmas para formulação e prospecção do conhecimento. Via de regra, a âncora dessa conjuntura é a hipótese recorrente de muitas investigações a serem descobertas e serem postas para o público acadêmico ou a sociedade em geral. Ao equacionarmos essas questões também solicitamos ao leitor certa dose de parcimônia durante o ato da leitura e ao mesmo tempo uma determinada coragem para transformar tais considerações, saindo do plano das ideias para sua prática diária enquanto sujeito pesquisador. Portanto, o convite à leitura está feito, basta agora seguirmos o raciocínio ofertado para tentarmos refletir sobre o progresso da ciência ou das pesquisas de um modo geral. Movimento que irei rastrear a seguir. Antes que eu me esqueça, peço licença logo agora para utilizar alguns posicionamentos.  

Nos dias atuais, a pulverização do intelectual enquanto partícipe do progresso da pesquisa científica tomou conta da sociedade capitalista moderna. Dificilmente conseguimos captar e valorizar o intelectual que não esteja vinculado a uma universidade ou mesmo aquele que não possua um determinado título acadêmico. O intelectual orgânico pregado pelo italiano Antonio Gramsci já não faz parte do modelo estipulado também por Jean-Paul Sartre, especificamente nas suas conferências proferidas no Japão em meados do século XX.

No período em questão, Sartre conjugou a figura do intelectual com aquele sujeito que não apenas ensina a forma com que faz a bomba atômica, mas daquele cujo raciocínio ensina a desmontá-la ou mesmo amortizar seus efeitos. “O intelectual é aquele que se mete naquilo que não é da sua conta. […] O intelectual é, portanto, um técnico do universal que se apercebe de que, em seu próprio domínio, a universalidade ainda não está pronta, está permanente a fazer.” (SARTRE, 2002, p. 35) Remando quase no mesmo patamar conceitual teremos o francês Maurice Blachot, o qual também pensara o intelectual como sujeito membro de uma determinada sociedade ou engajado dentro de um sistema. “El intelectual está siempre em contra de algo, defiende uma causa, pero la defiende siempre de algo y contra algo” (BLANCHOT, 2002, p. 32).

            O crítico Edward Said também corrobora para algumas reflexões acerca do sujeito intelectual. “Há o perigo de a figura ou imagem do intelectual desaparecer num mar de pormenores, e de o intelectual se transformar em apenas mais um profissional ou num número de uma tendência nacional.” (SAID, 2005, p. 33)  Já o brasileiro Mário de Andrade, em Elegia de Abril, artigo integrante da coletânea Aspectos da Literatura Brasileira (1978) versava que o sujeito intelectual seria aquele homem que pudesse estabelecer uma verdade ou conjugar “Imagino que será de muito benefício para o intelectual brasileiro, especialmente nos momentos decisórios de suas atitudes vitais, ele auscultar mais vezes a sua sensibilidade.” (ANDRADE, 1978, p. 190) Portanto, como observamos todos os fragmentos mencionados buscam sintonizar a figura unânime do sujeito intelectual enquanto homem capacitado para empreender sua vontade e torná-las participativas para o seu respectivo público. 

A problemática maior é que a figura do intelectual nos tempos atuais tornou-se tão dispersa e ao mesmo tempo fragmentada. Com o advento da modernidade capitalista e os meios midiáticos, implantada em muitos países, especificamente no eixo ocidental, o sujeito intelectual passou a ser colocado em “xeque” e visto como mais um contador de histórias e analista das ideias já pregadas por outros.  Sobre esses efeitos da sua dispersão na sociedade moderna, uma excelente dica seria a leitura dos livros do autor Zygmunt Bauman.  Na esteira dessas tendências teóricas iremos encontrar o raciocínio desenvolvido nos livros (Mal estar da modernidade, Modernidade liquida, entre outros títulos oscilando na mesma temática.)

Vivemos em comunidades, onde o conhecimento é praticamente fragmentado, ou seja, dividido nas especialidades e nas cadeias de interesses individuais. Exceção à parte, muitos pesquisadores e intelectuais, especificamente na área de Humanas conseguem manter um determinado diálogo prolífico sobre suas disciplinas e pesquisas de atuação. Digo isso, porque, frequentemente compartilho minhas ideias e pesquisas com colegas e companheiros de áreas correlatas à Literatura, objeto atual da minha pesquisa. Na verdade, são pesquisadores da área de História, Geografia, Filosofia e Sociologia que, apesar das distâncias, conseguem manter algumas afinidades pelo campo das interdisciplinaridades ou mesmo das fronteiras diluídas que algumas pesquisas acabam atravessando.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Mário de. Aspectos da Literatura Brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 1978.

BLANCHOT. Maurice. Los intelectuales em cuestion. Espanha: Tecnos, 2002.

SARTRE, Jean Paul. Em defesa dos intelectuais. São Paulo: Ática, 1994.

Said, Edward. Representações do intelectual. Lisboa: Colibri, 2005.  

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