Por Cristiano Mello de Oliveira
Podemos começar este subtítulo com o devido questionamento: como podemos avaliar um aluno leitor de literatura? Ou como podemos avaliá-lo como não leitor de literatura? Percebam que o tom da pergunta se modifica quando dizemos que um aluno é leitor e o outro é um não leitor. A variação para esse tipo de indagação implica diretamente no modelo de avaliação a ser seguido, pois não devemos pegar muito pesado devido à diversidade cognitiva de boa parte dos alunos. Existem alguns, que mesmo devido ao incentivo do professor ou das exigências escolares, não são capazes sequer de tomar frente ao texto literário. Como sabemos, ler literatura é uma forma de resistência, porque muitos estudantes não preferem o isolamento do círculo das amizades, do afastamento dos jogos de videogame, das séries da Netflix. Ou seja, é um mal a ser combatido. Infelizmente, a literatura concorre com os meios massivos de comunicação, e, é papel do professor, buscar cativá-los dos diversos meios de distração. Basicamente, o nosso compromisso não é apenas avaliar este aluno, mas tirá-lo do vício da não leitura, ou seja, dos fatores competitivos que o tiram da literatura de ficção.
Ainda insistindo na variedade de aprendizagem dos nossos alunos, o professor provocará no ato de leitura e, consequentemente, na avaliação de muitos leitores, uma forma mais crítica de se questionar o artefato literário. Não é importante que se faça um jogo memorativo dos fatos e acontecimentos relacionados ao enredo, porque esses já são superados e repetidos pelos resenhistas de plantão da internet. Por trás de uma boa formação de um leitor existe uma preocupação estética ligada ao fazer artístico. A partir daí a competência mais interessante a ser exigida é o diálogo com o sublime e com a fruição do texto, ou seja, uma questão de alteridade durante a leitura, assim como o confronto amigável com o estranhamento e a pluralidade de pensamento. A nosso ver, ambas devem percorrer o raciocínio de uma boa forma avaliativa no campo dos estudos literários. Não por acaso os regulamentos batem na mesma tecla do tão cobrado posicionamento do leitor frente à obra de arte, no caso o fenômeno da literatura. Caso desejemos saber e interrogar: a pergunta mais ampliada pode ser: “O que a obra te causou ou te provocou?” e não uma questão mais simplória e talvez mesquinha: “O que você entendeu da leitura deste romance?”
Reforçando o nosso argumento: na formação de leitores críticos, faz-se importante uma avaliação menos objetiva e mais dissertativa. A defesa de um argumento e o levantamento de hipóteses são fatores indispensáveis na formação e na avaliação de bons leitores. A resposta dada a pergunta deve ser mais problemática do que assertiva. Portanto, o diálogo com a bagagem de vida do aluno também se faz operante. Existem leitores que possuem afinidade com textos literários que trazem como temas conteúdos policiais e violentos. Dessa forma, suponhamos que você professor tenha trabalhado contos marginais de autores inseridos no eixo Rio-São Paulo. Se eu peço para que o meu aluno do Ensino Médio disserte sobre o conceito de malandragem no romance marginal do escritor João Antônio, é possível que ele verifique não somente o conceito, mas qual foi à dimensão criativa do autor durante o período de produção da obra. Em outros termos, o conceito deve permanecer relativamente datado em relação ao processo de formulação do romance ou do conto.
Avaliar não significa eliminar os fracos e perpetuar os bons. A nosso ver, significa cativar e orientar os fracos para que eles possam superar os obstáculos de um ensino pragmático. No clássico filme argentino A História Oficial (1985), temos uma professora de História que infelizmente insiste num método avaliativo bastante pragmático. Ela não está disposta a aceitar outros modelos de leitura da História da Argentina a não ser o método positivo e pragmático, ou seja, o certo ou o errado. Acontece que o modelo de ensino conservador de História já deveria ter superado o que existe nos documentos para que se sirva de apenas um único modelo de resposta a ser adicionando mecanicamente pelo aluno. Em pleno governo militar argentino, no filme, a questão é bastante polêmica, pois a professora solicita que o aluno faça uma prova mais objetiva e menos dissertativa. Ao tratar o aluno como apenas um número que lhe sirva como coeficiente de mensuração avaliativo, o professor acaba partindo para um modelo de avaliação inócuo, inoperante e raso no seu raciocínio didático. Se você leitor deste livro, possa permitir a nossa justificativa: aulas de literatura com base em avaliações objetivas fogem daquilo que a comunidade escolar realmente necessita: a formação de leitores críticos imbuídos com livre a manifestação de pensamento.
Para finalizarmos sem atingirmos um simples ponto final, por mais que reivindiquemos uma abordagem avaliativa mais substancial e menos objetiva, parece que os velhos programas de vestibulares ainda buscam provar o conhecimento do leitor com base em questões de múltipla-escolha. Situação em que a competência é apenas memorizar o conteúdo proposto pelo professor. Por uma visão global, a avaliação em literatura, ainda insiste em manter uma aula transmissiva e não dialógica – fazendo do aluno uma simples tábula rasa de armazenamento de conteúdos curriculares. Ledo engano, ainda existe a crença de que memorizando algo relacionado à vida do autor, circunstâncias ligadas ao enredo e à escola literária, assim como as vanguardas artísticas que superam umas às outras, o aluno é capaz de provar suas devidas competências cognitivas.
REFERÊNCIAS
BNCC. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2019.