O USO DAS FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS E O ENSINO DE LITERATURA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Por Cristiano Mello de Oliveira

Falar de ferramentas tecnológicas implica conhecê-las como estas são úteis no tratamento com o texto literário. Acima de tudo, é saber como o aluno pode apreender usando-as ao seu pleno favor – no condicionamento dos autores e das obras de sua preferência. A tecnologia deve sempre servir ao professor da melhor forma, ou seja, deve auxiliá-lo sem substituí-lo. Por isso é comum que sempre encontremos dilemas entre o bom uso da tecnologia e o uso indevido. A nosso ver, deve existir uma espécie de contrato entre os conteúdos e o papel de transmissão desses pelo docente. Caso o professor se aproveite da tecnologia para não dar uma boa aula ou substituí-la (matando a aula, como dizem por aí), certamente, isso prejudicará o andamento dos conteúdos. Portanto, é por meio de uma consciência metodológica que o docente utilizará a tecnologia da melhor forma possível, dando voz a sua aula, atingindo as competências cognitivas que, supostamente, serão necessárias ao aluno. 

Diante do exposto, no campo da linguagem e das novas tecnologias, é possível que as 10 recomendações estabelecidas pela Base Comum Curricular no âmbito da Educação Básica possam ser ativadas (e entrarem em sintonia) na prática de:   

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. (BNCC, 2018, p.55). 

Alguns modelos de estratégia tecnológica podem ilustrar melhor o condicionamento do docente frente às suas aulas. Podemos extrair nas entrelinhas que ao ver da BNCC (que podem ser passíveis de forma isenta de controvérsia por parte dos educadores), o aluno somente demonstrará a sua competência a partir do momento que ele faça o uso correto de uma determinada tecnologia para o aprendizado de algum componente da matéria, neste caso defendemos aqui o fenômeno que o artefato literário provoca. A vivência em sala de aula e o trabalho os quais os artefatos tecnológicos exigem podem fartamente sumariar o resultado lá na frente. Ou seja, é na prática diária docente que o resultado passa a ser visível e quase tangível, estimado e verificado pelo docente e a equipe pedagógica. 

Como ilustração para os diversos fins, na rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro é possível fazer uso da “televisão pendrive” proporcionando aos alunos da Educação Básica uma aula mais dinâmica e de qualidade diferenciada. A fim de expandir o conhecimento por meio deste aparato, o professor pode inventariar diversos tipos de aula. Existe uma grande preocupação por parte de o setor pedagógico dar o devido apoio ao professor, fornecendo-o meios que suportem uma aula mais consistente. No ambiente da própria instituição citada, uma equipe preparada (por diversos especialistas, divididos nas suas respectivas áreas de atuação) de atuar junto aos professores e alunos. No site da secretaria, o professor pode gravar alguns conteúdos – trechos de filmes, depoimentos de autores, trechos narrados de obras – os quais podem substanciar alguns aspectos circunstanciais que cercam a dimensão criativa da obra. Por meio deste aparato, docentes possuem a liberdade (de acordo com o seu plano de ensino) de gravar conteúdos necessários ao apoio da aula. Em suma, é uma via de mão dupla, ganha o aluno e ganha a própria comunidade escolar. 

Não obstante, conforme defendemos, o docente deve usar o material extracurricular para dar o devido suporte tecnológico – não fazendo uso como fator autônomo de suas aulas. Por exemplo, ao trabalhar o conteúdo interdisciplinar entre as áreas de Literatura e História, o professor deve munir o aluno de conhecimentos circunstanciais à produção da obra. Suponhamos que ele resolvesse trabalhar com a leitura da obra Esaú e Jacó, do escritor Machado de Assis, faz-se necessário contextualizar como era a cidade do Rio de Janeiro no final do século XIX. Dessa forma, o uso da tecnologia por meio de um trecho de filme (na televisão pen-drive) que pudesse dar conta da reforma do prefeito Pereira Passos, a demolição dos primeiros cortiços na avenida central (futura Avenida Presidente Vargas), a inserção de uma arquitetura urbanística à moda parisiense, o fim das carruagens e início dos bondes elétricos, a chegada dos primeiros postes de eletricidade, dentre outros fatores, pode fartamente iluminar o período histórico. O enredo da obra está diretamente relacionado ao contexto político entre a transição do período imperial para o republicano, personagens transitam diante das questões de época. 

Em última análise, outro exemplo tecnológico notório é a disposição pela Instituição escolar de fazer o uso do disco player, o clássico rádio que toca discos compactos. É por meio deste aparato que o professor pode dar mais vida ao conteúdo das suas aulas. Com o surgimento das plataformas de música online, parece que poucos professores têm valorizado este meio didático de ensino. Longe de ser apenas um meio tecnológico, o efeito da música de época (acompanhada de sua letra) pode dar um novo sabor de leitura ao texto de ficção. Todavia, a dificuldade maior nesse tipo de tarefa é encontrar os meios musicais daquele período e conseguir encaixá-los numa determinada parte da obra. Antes de tudo, exigirá uma breve pesquisa e planejamento de aula por parte do docente. Algumas obras literárias de autores canônicos são dimensionadas por períodos musicais (samba, modinha, marchinhas de carnaval, batuques, dentre outros); parte desses percorreram décadas de cultura popular brasileira. Supostamente que a escolha do ritmo deve ser feita de forma coerente e visando atingir às devidas competências de aprendizagem.  

REFERÊNCIAS

BNCC. Base Nacional Comum Curricular. Brasília:  Ministério da Educação,  2019. 

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